domingo, 24 de agosto de 2008

Nicolau, de Neanderthal @ Digital

por Guto Maia  
Eu não falava português quando nasci. Aliás, nem falava. Tivesse eu nascido na China, falaria chinês.  Tivesse nascido cachorro, latiria.  Nascido burro, rebusnaria! E mesmo que eu nascesse surdo e não falasse, ainda assim, viajaria pra todo canto, e me faria entender, até por cachorros e burros de outras regiões que falam chachorrês e rebusnês, é claro. Comunicação entre seres vivos é da vida. Mesmo um eremita ou ermitão na sua solidão, se comunica com outros seres de outras espécies menos solitárias e menos estúpidas que ele (!), talvez. Há quem acredita até, que os vivos se comunicam com os mortos! A internet elevou essa comunicação (de vivos com vivos! e até com mortos, talvez (!)) a potências infinitesimais e inimagináveis.
Quando nem havia internet, alguém sentenciou: “Quem não se comunica, se estrumbica!” E, tome buzinada!
Somos todos “Chacrinhas” na internet. Escrevemos meta-textos, falamos por tags, acessamos por play, iconizamos tudo (!).
Quando olho >>>, já sei pra onde estão querendo me mandar ir. Já não me ofendo quando o computador fala: “você não quis dizer isso ou aquilo? (sua besta!)”, me chamando descaradamente de burro! Ou, quando duvida da minha competência, quando pergunta: "tem certeza que quer ir para esse link?" (seu estúpido!). Não ligo mais, sei que tudo é pro meu próprio bem. Relaxo. A intuição nunca foi tão bem exercitada como hoje. Já não me desespero quando leio: "erro grave. esse programa tem que ser encerrado imediatamente”, ou “você cometeu uma ação ilegal”. Me pergunto: “como conseguimos viver tanto tempo sem internet, celular, laptops, memória virtual, etc?” Como éramos “desconectados” da realidade, rs! Vivemos hoje a era da googlelização, wikipediamos qualquer dúvida, rankeamos qualquer microemoção, rakeamos ideias, favoritamos nossos iguais, twittamos nossos inimigos, queremos-nos seguir nossos ídolos, roubamos até seus perfis. Agregamos valor a tudo que nos diz ou não diz: Respeito (!).
Hoje, haverá algum problema sem solução? Existirá ainda alguma dúvida sobre o que quer que seja?  Encontramos em tempo real, respostas pra quaisquer perguntas. Nem sempre confiáveis, mas estão à mão. Pergunte: "quantas porcas você precisará para todos os parafusos de todos os dormentes de uma ferrovia de 2.000 quilômetros", e você terá a resposta!  Vivemos no futuro: portanto, nem nascemos ainda. Julio Verne sentiria inveja da nossa competência. Eu como tecnologia, eu viro tecnologia, como um verme virtual, um virus viral. Há seis meses, eu era um excluído virtual, um analfabeto digital. Hoje, me engajo até em salvar chinchilas brancas do interior do Alaska, onde nunca estive e talvez nunca vá! Mas, me senti compelido a ir pela web. E, quando vejo @ sei que vou para algum lugar que nem imaginava que existisse (!); quando clico num link, ciclo várias encarnações de compartilhamentos, posso não saber o que vou encontrar, mas sei que estou indo para um caminho sem volta. Invento neologismos “inicializando” um novo ciclo na minha vida! Um caminho que nem é visível, por conseguinte etéreo, atemporal, virtuoso e ideal, como maconha para um hippie cibernético.
Navegar é preciso, viver nunca foi tão preciso; se você sabe por onde navegar, você vale mais e se salva, tudo se encerra então numa grande batalha naval de navegadores invisíveis. Não adianta mais só saber nadar para não se afogar. Esse mar também queima! Temos, então, que aprender a andar sobre as águas, abrir oceanos. Seremos onipotentes e onipresentes. A grande vantagem do ser virtual, é ser inacabado. Pode ter alguém lendo esse texto agora, e nem sabe que já estou mudando o final... Talvez, quando voltar, eu até o tenha deletado, tamanho o meu poder. Simples, assim. Mas, não está mais aqui quem falou. Já está lá no futuro!. 

(e, no entanto, ainda não temos a cura do câncer, da gripe, da aids, da fome, da falta de caráter, de dignidade...)

A humanidade caminha a passos largos de tartaruga.

Guto Maia