segunda-feira, 4 de maio de 2009

Seres urbanos e ets




À noite, vejo formas no horizonte que ao invés de libertar os olhos, confinam. Vejo luzes da cidade, que ao invés de iluminar meu caminho, criam um caleidoscópio de imagens e pensamentos intermitentes. Um redemoinho sonolento que me traz sempre de volta ao mesmo lugar, para depois fugir no espaço novamente e novamente retornar...Interessante... re-tornar nova-mente. Como se o retorno ao mesmo ponto pudesse representar o novo!
Do desconforto de um banco confortável, vejo um verdadeiro ataque de luzes brilhantes, coloridas. Imagino ovnis extraterrestres tentando abduzir aos que não estão, como eu, na proteção dos seus aquários, naves-aquários inexpugnáveis de poderosa blindagem. Sinto que às vezes, os que estão do lado de fora me olham com compaixão, mas desprezo-os. Pra dizer a verdade quase nem os noto. Sinto-me seguro dentro dessa nave transparente. Não serei atacado. Estou protegido. Meus cavalos sob meus pés são poderosos. Tá certo que, ao invés de cavalgar , marcam passo sem sair do lugar. Isso me irrita por um instante. Depois, volto aos pensamentos fugazes e sonolentos. Todos os cavalos comprimidos a meus pés, iniciam um cortejo lento, como se estivessem prestes a explodir em expansão pelos ares, mas eu os contenho, não sem uma leve dor renitente nos pés pelo esforço continuado. Penso no médico.
Paradoxalmente, a noite traz a certeza de que sobrevivi mais um dia. Tenho a sensação de ser um vencedor... Sinto um alívio de pensar assim. Olho pro lado. Vejo, em outra nave-aquário, uma bela loira. Ela acende um cigarro. Penso: “como é que pode?” Sinto saudade, nem sei direito de quê. Talvez da irresponsabilidade/coragem/ilusão/ingenuidade/petulância de outrora... Mas, o dever me chama: primeira, segunda, primeira, segunda... Primeira, segunda terceira...agora vai!

É isso aí. Seres urbanos sentem-se alienígenas sem noção de tempo e espaço. Às 7 da noite, dentro de suas naves-aquários, encalacradas no trânsito, são abduzidos pelas luzes em volta, e transportados para ilhas paradisíacas. Pena que logo chegam em casa, e o sonho se acaba...

Por Guto Maia